quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Dona de si



Ela se perguntava se existia realmente esse negócio que todos chamavam de destino. Era uma ideia engraçada, pensar que toda nossa vida, que todo nosso destino estava nas mãos de alguém. Se isso era verdade, gostaria que estivesse nas mãos de Deus. Era nisso que acreditava. Era nisso que iria acreditar até o fim.

Pelas tantas e boas que havia passado com seus relacionamentos antigos, imaginava aquilo que a maioria pensava "todos os homens são assim". Quando se deparava com alguém já imaginava seus diversos defeitos, já via logo de cara coisas que não desejava. Infelizmente era assim.

Amigos, tinha poucos. Amigos homens, menos ainda. Seus relacionamentos antigos não a permitiam. Amizade entre homem e mulher era impossível na visão deles. Ela acreditava nessa amizade, afinal tinha bons amigos homens. Amigos leais, e que a respeitavam como até mesmo suas amigas não a respeitavam.

E um desses amigos estava tirando o sono dela. Ela queria até mesmo acreditar que ele era "igual aos outros", para que não caísse de paixão e não sofresse mais como havia sofrido. Seu sofrimento, tentava esconder dos outros, e os outros acabavam achando que ela era louca. Ou não tinha sentimentos para tratar seu ex com indiferença. Ou realmente vivia no mundo da lua, no mundo dos sonhos, e era considerada uma adolescente por acreditar em coisas tão impossíveis.

Mas em seu travesseiro, sempre à meia noite, tinha todos seus pensamentos voltados àquela pessoa, àquele amigo. Não somente porque era sempre por volta desse horário que ele a ligava. Mas ele estava em seus pensamentos muito antes disso. Antes de ela mesmo nem desconfiar que poderia ser "algo a mais" que amizade.

Sua amizade durou bastante tempo, e ficou alguns anos sem entrar em contato. Mas quando o contato retornou, parecia que ontem mesmo os dois haviam se falado, se topado na esquina. Era impossível disso ter acontecido, afinal 1.050 quilômetros os separavam.

Estaria vivendo um amor - amor, não, paixão platônica? Estaria vivendo algo que nem ela mesma acreditava que seria tão possível? Foi tudo tão rápido, foi tudo tão de repente, foi tudo tão... encantador. Mas sim, ela acreditava sim, piamente, em toda esta loucura.

Estava prestes a cometer o maior pulo de sua vida. O pulo para o inesperado. O pulo para o incerto.
E isso tudo a fazia tão feliz! A fazia tão realizada, tão, tão... Ah!

Devia ser mesmo paixão. Mas não platônica, pois era correspondida. Acreditava em cada palavra dele, acreditava em cada gesto, em cada "bons sonhos", em cada "durma bem", em cada "eu também te adoro". Quem sabe algum dia aquilo não deixava de ser paixão, esse sentimento tão passageiro? E passasse a ser algo maior, algo em que era cedo acreditar? Mas acreditava.

Era a sonhadora da família. Era a adolescente dos amigos. Era a dona de si mesma, pela primeira vez na vida. Era feliz.

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