quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

"Por uma digitalização da memória jornalística" - Comentário



Pois é! Um de meus objetivos para 2014 é voltar a estudar, ou fazer algum curso. Pode ser também escrevendo um artigo. Ou pelo menos lendo outros artigos. Estou estagnada, confesso. Li um artigo bem interessante, chamado "Por uma digitalização da memória jornalística" de Rosilene Dias Montenegro e Fábio Ronaldo da Silva. Comentarei sobre o artigo, mas de modo informal. Não pretendo falar nada de extraordinário, mas somente deixar registrada minha interpretação e experiência pessoais.


No geral, o artigo fala sobre a digitalização de Jornais, seus prós e contras. Comenta sobre arquivos e bibliotecas e seus modos de armazenamento. Faz algumas críticas e até - por que não?! - dá sugestões em suas entre-linhas.

Em uma determinada parte do texto os autores citam que "Podemos afirmar ainda, que os arquivos constituem uma parcela significativa da memória de um país ou de um povo, e que salvaguardam os direitos legais do Estado, das instituições e das pessoas" (p. 1). Pronto. Acho que isso resume boa parte de todo meu entendimento sobre o texto. Mas calma, eles ainda não falam sobre os arquivos digitais. Isso ocorre mais pra frente. Vendo esta frase, lembrei de um canal no Youtube e site, chamado Museu da Pessoa. Conheci essa semana e achei um trabalho muito interessante. É uma iniciativa que deu início em 1991, e abriga histórias de pessoas anônimas ou célebres através de vídeos, reportagens e fotos.


"É compreensível que o jornalismo on-line não esteja descartando ou desestruturando boa parte das características ancestrais e fundantes já institucionalizadas, mas ele está possibilitando, à instituição jornalística, desenvolver relações temporais novas do fator 'novidade' com outros conteúdos ou fontes de informação" (p. 3). A meu ver, os autores dão uma ideia de que o jornalismo tradicional, em papel, vê com bom humor, com receptividade o jornalismo on-line. Onde trabalho é bem visível essa realidade. Os alunos tanto se interessam em estudar jornalismo on-line, como ficam entusiasmados com o jornalismo tradicional. Importantíssima essa junção, pois um não sobrevive sem o outro, como veremos mais a frente. Como não poderia deixar de ser, na hora pensei em minha área. Talvez hoje, os e-books sejam um pouco mais aceitos. Mas ainda há uma "guerra" sobre livros versus e-books. Sim, sempre vejo nos Newsletters da vida os títulos "livros versus e-books", "a batalha dos livros e suas versões digitais", etc., etc. Não sei se isso é alguma jogada de marketing, ou se é exagero de quem escreve esses artigos. Mas passa a ideia de que os dois suportes estão em plenas espadadas. Eu também era totalmente contra o e-book. Porém, vejo que não tem jeito: ou nos adaptamos aos novos suportes, ou ficamos para trás. Não me preocupo em ficar para trás por parecer careta, mas ficar para trás e parecer totalmente desconectada do mundo (e assim como no post anterior, também não é um trocadilho). Temos que superar nossa tristeza e nos entregar à realidade. Os e-books estão aí, vieram com tudo para cima dos livros. Agora, se eles são aliados ou não dos livros em papel, vai da aceitação de cada um. E o melhor: conquista novos leitores.


"(...) podemos talvez considerar que o jornalismo em tempo real na Internet afirma duas relações de temporalidade: por um lado, uma relação de linearidade do tempo que se desdobra no ritmo do tempo do evento. Neste caso, marcar a hora de disponibilização da notícia é uma reafirmação de primazia do tempo cronológico na organização do conteúdo e na recepção pelo leitor" (p. 3). Tempo real. Hoje tudo é assim. Queremos as notícias na hora, queremos sempre saber primeiro - alguns somente para compartilhar em suas redes sociais. Impossível não me lembrar do segundo lugar deste Top Five. Sim, os meninos da bancada fazem piadinha com a apresentadora. Com razão - mas, coitada. Claro que a pessoa jamais irá esperar até "amanhã" para ver algo que já está disponível na internet, nesse exato momento. Os autores, logo abaixo, afirmam: "Por outro lado, há uma possibilidade de editar conteúdos e criar links estabelecendo uma não-linearidade do tempo: seja interligar conteúdos jornalísticos com temporalidade diversa (...), mas também interligar conteúdos jornalísticos com sites de instituições relacionadas ao conteúdo da matéria" (p. 3 e 4). Foi o que acabei de fazer. Esta dinâmica que a internet nos proporciona é, além de fascinante, um bom meio para nos distrair. Um dia, na pós-graduação, um professor falava sobre isso: estamos pesquisando sobre um assunto. Nem terminamos de ler a matéria que nos interessa, nossos olhos já perseguem outras coisas que ficam nas laterais. Apareceu outra coisa interessante, opa! Abro em outra guia. Quando vamos ver, nossa guia está lotada, e queremos ler tudo, queremos saber de tudo. Acabamos, no final de tudo isso, geralmente não lendo nada em sua totalidade, não conseguindo absorver nada, não conseguindo no final, assimilar nenhum assunto.

"O princípio da heterogeneidade representa, para o jornalismo digital, o uso de recursos como textos, fotos, imagens, mapas e áudio, integrados na mesma mensagem" (p. 4). Já ouvi vários profissionais da área de ciência da informação dizendo que a porcentagem de acessos que um site que reúne textos com imagens e vídeos é muito maior do que aqueles que utilizam somente textos. Pois é, estou fazendo isso mesmo com o artigo citado para tentar deixá-lo mais atraente, se é que ninguém percebeu ainda. Realmente, um texto com muitas palavras não chama a atenção de muita gente. Parabéns, e mais ainda, obrigada, se você estiver ainda lendo meu texto - não vale pular linha, hein! - até aqui.

Voltando à questão inicial do texto, "Seja através de CD-ROM ou site, as empresas jornalísticas estão digitalizando seus arquivos na tentativa de, tanto ganhar mais espaço em suas repartições quanto para contribuir na preservação dos tais documentos" (p. 1). Importante pensarmos na preservação de documentos. Afinal, como já foi dito no início do texto, é a memória não somente de uma pessoa, mas de uma  sociedade inteira. "O mundo da comunicação está em plena ebulição. Amparadas nas tecnologias digitais e na convergência multimídia, as transformações atingem tanto a estrutura e propriedade dos veículos, quanto à pesquisa, produção e difusão da informação" (p. 2). O trecho anterior fala em preservação, mas logo abaixo, surge a questão: como conseguir organizar tudo isso? Não está explícito neste trecho, mas lendo nas entrelinhas, como é que podemos manter a estrutura e propriedade dos veículos e ainda assim conseguir difundir toda a informação? É uma questão bem discutida. Como bibliotecária então, é ainda mais preocupante. Sobre a estrutura e propriedade dos veículos informacionais: somos um país de terceiro mundo, talvez não tenhamos tal estrutura para abrigar todas essas informações, sendo que elas vêm como um tsunami todos os dias. Posso estar falando bobagem, mas não vejo isso como possível atualmente. Sua difusão é dada com um arremesso de palavras, de notícias distorcidas muitas vezes, de opiniões difusas. Então, se não conseguimos organizar toda esta informação em sua estrutura e suporte, como preservá-la? E ainda: como difundi-la de modo correto e não difuso?

"A mudança de suporte, isto é, para outros TICs significa sempre adaptações para agentes e usuários, exigindo investimentos em transferência de tecnologia e informação" (p. 4). Investimento. Ah meu Deus, os investimentos! Se fôssemos um país de primeiro mundo, onde as coisas funcionassem em prol da educação e cultura, aconteceria isso aqui oh! Como eu comentei no Facebook, para a pessoa que compartilhou esta notícia: A ideia é até interessante. Mas é triste ver o comentário do criador disso: "Eu olho hoje para aquela biblioteca e fico orgulhoso, mas penso: o que vamos fazer com ela?" Como assim, o que vamos fazer com ela? Esta pergunta foi retórica? Ele foi um tanto infeliz ao fazer esta colocação. Pode ter sido cara? Pode. Mas a contribuição que ele deu à população, ao conhecimento popular, à disseminação, foi gigantesca. Muitos, acredito, não tinham acesso à informação de nenhuma outra forma. Assim como acontece em várias cidades brasileiras, a única fonte de informação confiável é aquela biblioteca que fica montada num barraquinho, aquela biblioteca ambulante, que vai às vezes em cima de jegues. A informação pode ser oferecida de diversos meios. E é digna tal atitude em todos esses meios. Tirando este comentário infeliz, Wolff foi generoso. Generoso é pouco. Caridoso ao extremo. Doar algo tão gigantesco e com tamanho valor material à uma cidade, é coisa para ser aplaudida em pé.

(Oxi, mas este texto está ficando maior que eu esperava. Calma que já estou acabando!)

Com minha experiência vinda de onde atuo, isto infelizmente, é uma utopia: "Ainda de acordo com MANTA, a entrada de jornais e revistas na Internet possibilitou a inauguração de um novo veículo de comunicação, reunindo características de outras mídias e que tem como suporte a rede mundial de computadores" (p. 6) . Muitos graduandos ainda não acessam revistas comerciais e periódicos científicos em meio digital. Por falta de nós, funcionárias da biblioteca, falarmos, não é. Creio que os professores também divulguem esta informação. Mas os alunos preferem ainda os artigos impressos. Concordo com eles. Também acho mais fácil a leitura. Absorvo mais a ideia. É algo que dá pra grifar (o artigo sendo meu, claro), anotar pensamentos no cantinho da folha. Coisas que a mídia digital não oferece. À mão, antes que me crucifiquem. Sei que podemos utilizar botões e ferramentas para grifar e anotar. Mas... Sou antiga. 

"O impacto das tecnologias no processo de comunicação tem provocado uma reordenação nos processos de produção e distribuição de conteúdos o que significa também mudanças nas práticas e rotinas profissionais" (p. 2). Imagino que grande parte dessa mudança nos hábitos de produção e distribuição de conteúdos estejam relacionadas com os direitos autorais. Há alguns anos atrás, quando eu tinha um outro blog (literário, de contos meus), eu tinha a maior preocupação do mundo que alguém "roubasse" meus pequeninos e pobres contos. Se eu, pequena, já era bitolada com meus direitos, imaginem um graduando que não tem seu trabalho tão bem "armazenado" em sites de busca. Já ouvimos histórias cabeludas de pessoas que plagiaram trabalhos inteiros, teses inteiras, dissertações inteiras, e anos depois - sim, anos - foram pegas. Esta situação é chata, e obviamente, deixa de legado a todos os acadêmicos, a insegurança de ter seu trabalho copiado. Pode parecer "bobeira", pois se a pessoa divulgou seu trabalho, é de livre acesso, faz parte agora da produção acadêmica da "sociedade". Mas não. Não é assim. Houve um estudo, houve um trabalho imenso, um suadouro terrível para o acadêmico chegar onde chegou (claro, se ele não for um desses malandrinhos que plagiam). Há na internet um interessante e engraçado vídeo sobre o plágio.


O autor cita Arms (2000, p. 98):
"É importante dizer que, mesmo guardando as especificidades entre bibliotecas e arquivos, sejam ou não jornalísticos, as vantagens que serão expostas abaixo podem ser estendidas aos últimos.
*As bibliotecas digitais vão até o usuário e não o contrário;
* Recursos do computador são usados para pesquisa e navegação;
* Informação pode ser compartilhada;
* Informação está disponível a qualquer dia e horário; 
* Novas formas de informação se tornam possíveis" (p. 7).
Em diversos artigos já vi sobre este tópico acima: as vantagens. Infelizmente, no mundinho miserável em que vivemos, nem sempre temos a felicidade de termos bibliotecas digitais. Um dos motivos é mais uma vez por causa de direitos autorais. Seria um paraíso se todos pudessem acessar uma biblioteca digital, no conforto de suas casas, ter bibliotecas imensas gratuitamente ao alcance de seus dedinhos, poder acessar naquela hora de insônia, compartilhar aquele livro legal que você leu, na íntegra, acessar aquele dicionário virtual, que venhamos e convenhamos, é bem mais prático que o dicionário manual.

Enfim, a digitalização contribuiria bastante para vários fatores: com o manuseio dos documentos, o acervo é mais facilmente alvo de deterioração; a digitalização previne perdas ou roubos de documentos raros. Porém, eu sou antiga. Afirmo e reafirmo quantas vezes for preciso. Isto seria interessante para o jornalismo: o armazenamento de artigos curtos, matérias relevantes, mídias diferenciadas. Agora, livros inteiros digitais? Ainda prefiro os tradicionais. Ajuda na coordenação motora da criança, não temos problemas de visão e coluna, e ainda de quebra, podemos ter uma boa rinite. Brincadeiras à parte, esta mídia ainda não me conquistou por inteiro.

"É indispensável considerar o papel das bibliotecas, arquivos jornalísticos (convencionais ou virtuais) e de outras instituições no esforço de manter a ordem e o controle de um vasto mundo de conhecimentos e, porque não dizer, de dados. Se mantiverem uma postura passiva, submersas em antigo imperativo cultural, serão simples depositórios incapazes de contribuir efetivamente no processo de transferência de informação" (p. 8). Ok. Não sei se isso é antiético ou se fica chato pra mim. Mas compartilho uma experiência que me contaram. Sem citar nomes, locais e santos, conto o milagre (ou desventura, caso prefira): em uma cidade de coroneis, havia uma biblioteca pública. Ela abrigava documentos importantes que contavam a história da cidade. Esses documentos estavam em um estado deplorável. Organizados em pastas, mas deplorável. O coronel X, que era inimigo do que governava aquele lugarzinho mequetrefe resolveu um dia aparecer por lá. Era um documento que estava como "disponível" e que podia "circular". Ele pediu emprestado para digitalizá-lo na capital. Era tudo de primeiro mundo. Ele assinaria um papel, legando suprema responsabilidade sob o documento. Não vendo problema, o documento foi emprestado. Não sabendo com que cargas d'água, esta informação foi cair nos ouvidos do coronel Y, aquele que comandava o local, o dito cujo foi até lá tirar satisfações com quem tentava deixar a biblioteca um lugar melhor. Trovejou, caiu raios e trovões dentro daquela biblioteca. O coronel Y não queria saber de emprestar documentos assim para qualquer "desconhecido", que poderia fazer mal ao documento. (Claro, fazer mal. Dar banho na "criança" seria fazer muito mal, no meu ponto de vista. Agora, levá-lo para digitalização...). Quando o documento foi devolvido nas mesmíssimas condições com que foi emprestado, o coitado do ser que cuidava da biblioteca, teve que trancá-lo a sete chaves. Se alguém perguntava se tal documento existia, dizia que não. Por medo.

Esta pequena historinha ilustra bem o que certos embates políticos querem fazer com o arquivo ou biblioteca. Os autores do artigo até mesmo complementam o trecho acima: "Problemas como falta de infra-estrutura física, incapacidade da infra-estrutura humana ou a falta de consciência política e pública sobre os benefícios possíveis e a falta de contextos legais e organizacionais adequados são etapas que podem ser vencidas" (p. 8).

Para finalizar (viu, eu disse que estava acabando), coloco uma última citação. "Para os que usam a justificativa de que, ao digitalizar os arquivos haverá um processo de desumanização, deve-se deixar claro que o processo de informação, independente do modo que seja utilizado, só se transfere de indivíduo para indivíduo, portanto é uma ação humana que se processa através de um emissor que codifica a mensagem e de um receptor que a decodifica e percebe o seu significado" (p. 8).

E para nossa reflexão, mais uma do "que físico" Albert Einstein.



Por isso irmãos, pensemos: a fome de informação pode gerar uma grande indigestão ;)

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