quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Resenha - Pomba enamorada

Pomba enamorada ou uma história de amor - Lygia Fagundes Telles

Já havia lido um livro da autora. O famoso "Venha ver o pôr do sol". Deu-me a impressão de que ela era um tanto triste, depressiva e até macabra. Achei meio perturbador lê-la. Confesso que não me agradou. Mas não desisti, afinal é uma autora tão aclamada. Depois li um conto, em um dos livros da coleção "Para gostar de ler". Não me lembro qual conto, e nem se gostei da história.

Ganhei este livro, Pomba enamorada... de uma amiga. Foi um livro doado pelo Governo do Estado de São Paulo às escolas públicas, como eles já vêm fazendo nos últimos anos. A mãe da minha amiga trabalha em uma escola, e pela graça divina e uma caridade que acho bem cativante e emocionante de minha amiga e sua mãe, elas me deram vários livros este ano. Ano passado também. E acho que no outro.

Quando vi Lygia Fagundes Telles, pensei: Ih... A mulher dramática, que joga seus leitores na fossa. Tudo bem, minha lembrança quanto ao Venha ver o pôr do sol, não era lá muito boa e nem fresca. Mas pensei isso sim. E no meio de tantos livros sempre é difícil escolher o próximo da lista. Sempre tem aquele livro super desejado que ainda não temos, ou um livro interessante que encontramos na prateleira da biblioteca. Parece que os nossos livros - ou os meus; não sei se só eu sou assim - quando comprados perdem um pouquinho do encanto. Talvez seja parte daquela ideia: "Se eu ficar doente e não puder ir à biblioteca, ou ficar completamente miserável e não ter mais dinheiro para comprar livros, terei os meus para ler". E assim acabamos pegando livros emprestados de amigos, da biblioteca, ou comprando novos. E sempre juntando. E ajudando nossos amigos livreiros a sustentar o sistema capitalista.

Bem, no meio desse emaranhado de ideias, volto à escolha do livro. Primeiro: achei a capa bonitinha. Uma pombinha. Uma capa branca como a neve. Talvez por descuido meu ou desatenção, eu não me lembro de ter visto uma capa tão branca assim nos últimos meses. Segundo: o título. Me chamou a atenção. Pomba enamorada. Nome diferente e cut-cut. Terceiro: Ligya Fagundes Telles. A autora deprê. A autora que eu praticamente me recusava a ler. A autora que não gostei.

Ah! Só jogar todos os preconceitos pra cima e pronto! Encontra-se um bom livro! Ligya eu conheço superficialmente, somente de nome, e de saber que é famosa, e que escreveu Ciranda de Pedra. E olha que Ciranda de Pedra só fui conhecer na faculdade. Não. Não li. Conheci o título. Por causa de um trabalho sobre marketing em bibliotecas: como atrair seu público, como chamar a atenção da população para a biblioteca, para livros que estão esquecidos nas estantes. Boba eu, né?! Ciranda de Pedra esquecido na estante? Um livro que virou novela? Pois sim. Na minha cabeça ainda está esquecido na estante, porque hoje alguém quer saber de literatura nacional, tendo tantos John Green's, Becca's, Spark's nas prateleiras? Com as belíssimas - isso não se pode negar - histórias de amor. Com um mel saindo das páginas dos livros? Com a diabetes que você pega ao encostar na capa do livro?! Enfim. Fiz um marcador de páginas sobre Ciranda de Pedra, que até que ficou bonitinho.

Mas como as pessoas minhas amigas têm me ensinado, jogar o preconceito pro alto é a melhor coisa que fazemos na vida. Deixa-nos mais leves. Mais prontos para absorver ideias. Mais receptíveis. E eu, que não sou lá tão sociável, é bom que eu deixe pelo menos este preconceito de lado. Por causa de um livro que li e não gostei, não é o autor que é ruim. Eu posso não estar em um bom dia. Eu posso não ter entendido lhufas, eu posso ter lido muito rápido (como sempre acontece), eu posso não ter dado poesia à coisa. E acho que foi tudo isso aí em cima que aconteceu. Ou não. Vai saber.

Pomba enamorada é um livro de contos. Uma delicinha de ler. Sim, tem contos que talvez eu tenha lido com certa pressa e os achei chatinhos. Acontece. Mas sério. Um que me encheu de arrepios, que meus pelinhos do braço davam saltos a toda hora, foi A estrutura da bolha de sabão. Antepenúltimo conto. É pura poesia. Desde a primeira linha até a última letra.

"'A estrutura da bolha de sabão, compreende?' Não compreendia. Não tinha importância. Importante era o quintal de minha meninice com seus verdes canudos de mamoeiro, quando cortava os mais tenros que sopravam as bolas maiores, mais perfeitas."

"Objetos frívolos - os múltiplos - substituindo em profusão os únicos, aqueles que ficavam obscuros nas antigas prateleiras da estante.."

Outro conto que achei bem tocante foi "Natal na barca". Uma mulher que está numa barca e não está muito aberta a novas amizades com pessoas totalmente estranhas à sua realidade e aos seus pensamentos. Até que uma moça a deixa desconfortável. Pois às vezes é nesse "sentimento", nesse "ato" - do desconfortável - que conseguimos captar certas mensagens. Certos anseios fúteis que temos.

É um conto triste? Sim. Mas cheio de esperança. Aquela esperança que novamente reacendeu quando imaginei que Ligya já havia morrido dentro de mim.


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