- Pode entrar no carro querido. Vou ali falar com uma amiga. Toma a bolsa.
Bolsa. Quando ouve aquela palavra, estremece. Sabe que bolsa de mulher é um mundo encantado, no qual nenhum homem deveria entrar. Aquela noite está fria e ele está só de jaleco. Deve ser estudante de enfermagem ou palestrante daquela faculdade que está diante dele. Está com frio. Frio de doer a espinha.
Abre o mundo encantado da mulher. Saem gloss, sombra, batom, borboletas, passarinhos, purpurina e até um som de caixa de música de bailarina. Para ele que é homem, existem mais de mil bolsinhas por dentro da bolsa-mãe. Passa cerca de três minutos em cada bolsinha procurando a bendita chave que abrirá o carro e lhe dará sua jaqueta de couro quentinha. Tira de tudo de dentro da bolsa: livros, papeis, maquiagem completa, caneta, chave... Chave! Não, é da casa. Sombrinha, mais um livro, absorvente, blusinha de lã. Começa a ficar irritado e dá um sorriso tipo “eu ainda mato”. Sua. O suor pinga dentro da bolsa. Seu rosto fica vermelho. Antes apenas mexia com cuidado. Agora com violência. Olha para os lados. Enxuga a testa com o pulso. Fecha a bolsa e pensa em desistir. Suspira. Sabe que vai voltar a ficar com frio.
Volta sua busca incansável na montanha desdenhosa. No total foram 15 minutos na bolsa. Sua mulher chega.
“Nossa amor, está aqui ainda?! Mas a chave está aqui, olha.”
E numa mágica tira a chave da bolsa.
“Mas que bagunça você fez na minha bolsa!”
Bagunça?! Bagunça??? Isso estava pior que o quarto de nosso filho quando seus cinco amigos vão dormir em casa. Achar a chave é o mesmo que achar um inseto morto no meio do Saara, numa tempestade de areia!
E outra! Essa bolsinha de onde você tirou a chave não estava aí quando eu mexi na sua bolsa!
(Escrito em 27 de setembro de 2009)
(Esta história é real, tirando as borboletas e passarinhos. Ah! E a caixa de música de bailarina. Sério gente, eu vi!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário