Fechava a porta do quarto e via as estrelas. Nem ao menos acendia as luzes, para que ela não assustasse os pontinhos brilhando lá em cima. Que tantos segredos deveriam guardar? Ela contava os seus sentimentos à Ursa Maior, às Três Marias e, arriscava alguns ao Cruzeiro do Sul.
Um de seus segredos era que queria voar até lá e passar uns dias em férias com elas, vendo tudo pequenininho, para entender a grandeza. A grandeza de tudo que lhe contavam: a grandeza do mar, do mundo, do universo, das grandes pessoas. Imaginava que poderia enxergar a grandeza de Gandhi dali de cima. Para ela, que na verdade, nunca o tinha visto nem por foto, imaginava um quase-deus. Seu irmão mais velho o admirava e dizia a ela que “Gandhi era Grande”, e ela pensava em estatura. Ele ria, e dizia que era pequenininho, pequenininho, que era só modo de dizer. Mesmo o irmão dizendo isso, ela queria acreditar que ele era enorme, e daria tchauzinho para ela de onde ele estava, pois de pé, na Terra, alcançaria o céu.
Outro desejo que surgia de sua vontade de subir na ponta das estrelas, era sussurrar o nome do menino que gostava. Não precisaria mais falar alto com as estrelas, tendo o cuidado em prestar atenção e ver se não tinha ninguém por perto. Achava o sussurro uma coisa gostosa e delicada de se fazer. Gostosa porque dava cosquinha na garganta, e delicada porque ouvia sua mãe dizer “eu te amo” ao seu pai, com um sussurro. Era tão bonito, que a arrepiava. Achava que tinha de ser assim mesmo, pois só gritamos quando alguém está longe de nosso coração, assim como gritamos quando alguém está longe fisicamente de nós. As pessoas deveriam sussurrar mais umas às outras.
Seu terceiro desejo, ao encontrar as estrelas, seria ver Deus de pertinho. Seria o que sua mãe chamava de “benção”. Queria poder tocar em seu rosto limpo, em seus cabelos cacheados, em sua pele marrom e olhar seus lindos olhos negros. Queria chamar Deus de Pai, assim como o chamava em suas orações. Sua mãe não sabia, mas ela não chamava Deus, os eu Pai, de Senhor. Achava que possuía intimidade com Ele, assim como tinha com seus amigos, e o chamava de você. Fazia brincadeirinhas com ele, em suas orações, contando piadas que aprendeu na escola, e inventava coisa que queria pedir. Ela sabia que o Pai tinha sabedoria suficiente para saber o que ela queria de verdade, e até para saber as respostas de suas piadinhas, mas ela adorava se divertir com alguém que não conseguia entregar, somente sentir.
Dormiu, com a luz do quarto apagada, as estrelas brilhando, e o coração ardendo em chamas. Feliz porque sabia que seu Deus morava nas estrelas e ouvia todos seus maiores desejos. Sonhou que estava sentada em uma das três Marias.
(Escrito em 27 de janeiro de 2011 às 01h04min)
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